
A primeira recordação que eu tenho do Natal, é um Papai Noel azul, me entregando o que seria depois uma lancheira vermelha, em 1989. Descobri anos depois (como todas as crianças da minha época) que o velhinho de 25 anos era um amigo de meu pai - que casualmente foi meu professor de física no colégio. Coisas da vida, embora eu sempre tenha gostado da matéria (sorte dele).
Quando era criança, pensava que todas as coisas, especialmente as datas marcantes (Páscoa, Dia das Crianças, Natal, entre outras festas que você dá mais importância até os 10 anos) tinham que ter um momento especial. É, algo marcante, como um Papai Noel azul. Podia ser traumático - eu poderia contar o fato na escola, e não ter nenhum amigo até a adolescência. Mas que se danasse (eu era mais impetuosa quando criança, verdade). Eu tinha que ter o tal fato, e Natal era sempre especial. Tinha o melhor de todos os fatos do ano.
Uma tia que confessou ir ao Medieval - o melhor motel de todos os tempos da década de 90 em SP. Um tio que bebia demais e acabava se afogando na piscina. Uma tia histérica que jogava sapatos na cabeça do marido porque este lhe dava o mesmo presente há 4 anos. Coisas assim.
O melhor Natal, de que tenho plena recordação, foi o de 1994. Em uma certa hora, todas os milhares (porque com 10 anos uma família de 20 pessoas é uma multidão) de convidados começam a se degladiar, falar da crise do país, do tetra-campeonato, do parreira, do efé-agá, entre outras coisas que naquela época não me interessavam (e hoje, continuam não me interessando, pelo menos entre os dias 24 e 25 de dezembro).
De repente, percebi que a minha presença não faria diferença alguma (como acontece em certos momentos até hoje) e fui até a piscina. Morávamos em um condomínio fechado, com quadra, parquinho e tudo o mais, quando tudo o mais era mais barato.
Deitei lá, no espaço de tomar sol. Fiquei ali umas três horas. Ninguém deu por falta. Fiquei olhando pro céu, todo estrelado, bem noite de verão.
Foi a primeira impressão de infinito que eu tive na vida.
Achava que quando crescesse, teria que ser Presidente da República, e bolar uma lei para que toda pessoa, uma vez no ano, olhasse para o céu. Para deixar de ser besta.
Até hoje, quando dizem "espírito de Natal", eu acho que tenho conceitos pervetidos.