sábado, 2 de junho de 2012

O medo da determinação.

Ninguém sabe dizer, com exatidão, o marco do início e do fim das coisas.

Os físicos, matemáticos, astrônomos, poetas, antropólogos, economistas. Todos tentam. Mas como afirmar, com certeza absoluta? Ninguém quer carregar este fardo. Afinal, e se estiverem errados?

Relacionamentos, por exemplo. As pessoas falam de determinados beijos, viagens, declarações, encontros inesperados, ligações no meio da noite, sms ao acaso (mais modernamente). 
Lembro de um filme, da Audrey Tautou. Ela se separa, devido à guerra, do homem que achava ser o amor da sua vida. Ele desaparece, e ela passa o filme todo procurando por ele. E tem momentos, de tanto desespero e saudades, que ela mentalmente conta até 5, e faz um acordo consigo mesma de que, se algo determinado acontecer naquele momento (como um carro passar numa estrada de terra abandonada), quer dizer que ele está vivo, e ela precisa continuar procurando por ele.
Somos assim. Registramos o marco inicial sempre baseados nestes momentos. "Foi aquela mensagem no meio da noite". "Foi aquele beijo roubado no cinema". "Foi aquele encontro inesperado na fila do teatro".

O que me leva a crer que, o marco inicial - sempre delicioso de se lembrar, seja mais fácil de ser "determinado". Falam em Big Ben, em crise do feudalismo, em capitalismo comercial, em sociedades primitivas, em teoria das cordas. Mas ninguém quer falar sobre o fim. A crise do capitalismo é real, mas ninguém cogita o seu fim em si. O que colocar no lugar? 21 de dezembro de 2012 está próximo, mas não vejo ninguém estocando alimentos na esperança de sobreviver. Negamos o fim. Sempre.

Um casal, juntos há uns 5 anos, passava por uma crise. Era dia dos namorados, e os dois, quebrados, não tinham muito dinheiro para presentes. Combinaram, então, de ir ao shopping, e escolherem presentes adequados para a conta bancária de cada um. Ele escolheu um roupão, acima do valor estipulado. Ela, meio ressabiada, pagou. Afinal, ele era "o amor da sua vida". Era só uma crise. Vai passar.
Chegou a vez dela. Procurou, procurou, e achou um óculos de sol. Precisava de um, mas também extrapolava o preço estimado entre eles. Era o mesmo preço do roupão. "Acho que não tem problema, afinal". Pegou o óculos, mostrou para ele, e ele, rapidamente, disse: "Querida, mas este óculos está um pouquinho caro, não está?".

É isso. Não somos preparados para encerrar algumas coisas. Mas após alguns anos de terapia, podemos concluir, com toda a certeza deste mundo, que é difícil colocar pontos finais. Entretanto, conseguimos determiná-los. O óculos foi o início do fim.