quinta-feira, 17 de maio de 2007

Das dádivas perdidas.




















Não sei que em certa altura do desenvolvimento humano, decidiram abolir o silêncio.

O silêncio se tornou constrangedor. Mal-educado. Até ameaçador. Salas de espera, saguões de aeroporto, filas de banco. É uma tortura. Você está lá, cá entre seus pensamentos, e alguém teima em fazer parte do seu pequeno, mísero, ínfimo tempo de silêncio.

“Fila longa, não?”.
“É, essa ponte aérea, que vida”.
“O meu canal precisa de um retoque”.

A comunicação, verbal, é essencial. Mas eu, por exemplo, preciso ter uns momentos de comunicação com meu cérebro. Ver se está tudo bem, como ele passou a semana, como vem se virando entre tantas sinapses, tantos impulsos, essas coisas do dia-a-dia. É verdade que tem o cerebelo, o bulbo, mas pêra lá, somos eu e ele, aí, todos os dias, na comunicação direta. Ele manda, eu respondo, eu mando, ele responde. Precisamos de intimidade. Ele quer entender aquele calafrio da terça-feira, ou aquela irritação da quinta-feira à noite; eu preciso de umas informações sobre aquele texto de quatro dias atrás.
Necessitamos um momento de carinho. Eu digo “vem pra cá”. E ele vem, dengoso. Precisa descansar, por uns segundos que seja. E eu também.

E vem um fiodaputa nos incomodar?
Por Deus!

Em que mundo vivemos!

Não deixem as pessoas começarem com perguntas.
“O senhor acha bom esse médico aí?”
Não responda!
“Preciso que te dizer que esse vôo...”
Não precisa!
Mas se vier o fatal “Posso te fazer uma pergunta?”.
Não pode! Não!
Controle-se, vire, torça os dedos, controle a respiração.

Melhor ainda: corra.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Pá pá pá pá














Lembro-me da primeira vez que ouvi Lou Reed no Velvet Underground. Uma miséria de vida. Como eu havia sobrevivido até aquele momento sem o Velvet ?
É isso que a música faz por você.

Utilizar uma música na sua vida, é um negócio muito sério. É fazer uso dos sentimentos de outra pessoa, que num momento orgásmico ou fudido (é...) da vida dela, soltou tudo lá, e anos depois, você, usurpador, utiliza-a para beijar, amassar, comer, comer, estudar ou ainda pior, matar alguém (sim, eu duvido que terroristas não tenham um CD).

Certamente há músicas e músicas. Como há bandas e bandas. E cantores e cantores. Eu já tive bandas pílulas, de uma música só. E algumas que me acompanharão até o fim da vida - quem sabe até além dela.

Houve algumas de meses e outras de semanas. Momentos bons. Namoros. Fases. Talvez seja o pior que se possa fazer por algum som. Você o usa cafajestamente por algum tempo, enquanto lhe convir, e depois, pé na bunda. Anos mais tarde, naquela tarde fossa, do lado do gim tônica, você se lembra dela, e põe o CD. Nada mais sacana com os sentimentos de um compositor.
(aconteceu comigo, e o Oasis).

Posso relacionar aqui, cinco músicas que marcaram a minha vida. Mas não fará sentido algum, a não ser que você esteja incluído no momento em que elas soaram pela primeira vez.
Posso apenas...hum, um dia, você descobre o melhor som da sua vida (ou os melhores, porque há muita coisa boa por aí).
Compra CD´s, estuda acordes, vasculha as vidas dos caras.
E os introduz (é...) na sua vida.

Se eu pudesse, por exemplo, encontrar alguém lá de baixo, eu encontraria o Lou Reed, com certeza. É algo muito pessoal, íntimo mesmo.

- Pô, você é um fudido!! Valeu, cara!