sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

"TOP FIVE".


Nick Horby é um grande cara. Um dos caras que eu mais gosto de ler, pelo prazer que isso me dá. Fala de coisas simples, como se fosse uma conversa de bar - sem propósito, mas que, de vez em quando, dá uma grande resposta e um caminho para sua vida.
"High Fidelity", ou "Alta Fidelidade", é um desses filmes que eu não canso de ver, e que me trouxe uma grande contribuição - o "TOP FIVE".

O filme tem uma das melhores trilhas sonoras de todos os tempos, e o enredo é uma adaptação do livro - que conta a história do Rob, um arquiteto frustado e dono de uma fantástica loja de discos (a Championship Vinyl) que leva um fora da namorada, Laura. A partir daí, acompanharemos sua trajetória - lembranças de outros foras clássicos, e suas inúmeras tentativas de voltar com a ex.
O ponto alto do livro (e do filme), é que as histórias, sentimentos, discos, trilhas sonoras e outros acontecimentos são classificados em "os cinco melhores", por Rob.
Há as cinco melhores músicas do dia, os cinco maiores pés na bunda, os cinco empregos dos sonhos, as cinco melhores coisas na ex-namorada, e assim por diante. Mas todos, sem exceção, com uma descrição sublime e consciente, detalhes importantes e períodos concretos. Uma síntese perfeita, da confusão complexa que é a vida do ser humano.

O melhor de tudo, para mim, é exatamente isso - que o "TOP FIVE" foge das nossas simplicidades. Os cinco melhores empregos tem datas, objetivos e descrições; por exemplo (vide vídeo).
Não é, simplesmente, querer ser astronauta. É algo como querer ser astronauta, em 1969, na NASA, conhecer Armstrong (que Deus o tenha) e talvez estar na Apolo 11. Sensacional. O melhor dos nossos sonhos e sentimentos mais obscuros. Uma verdadeira catarse das nossos maiores desejos, e frustações.

Mas confesso que o "TOP FIVE" dominou minha vida, por algum tempo. E da pior maneira. Perdi a grandiosidade do fato, e passei a selecionar as cinco melhores, de qualquer coisa, em qualquer lugar. As cinco melhores frutas exóticas da feira do sábado. As cinco melhores estampas para um vestido. Os cinco homens, e mulheres, influentes que eu mataria. Os cinco melhores sucos de melancia de São Paulo. Um verdadeiro tormento. E uma ofensa à ideia original.

Assim, depois de entender que a vida também estava um pouco simples demais (ou, na verdade, complexa demais e eu tentando simplificá-la da pior maneira possível), assisti novamente o filme, reli o livro, e entendi. É preciso estar de bem consigo mesmo, para conseguir o melhor do "TOP FIVE". E estar de bem consigo mesmo não é propriamente gostar de tudo em nós, ao contrário. É assumir que fazemos inúmeras cagadas, nos arrependemos, sonhamos e ainda não chegamos lá. Mas queremos. E para isso, tentamos lutar, diariamente, contra o pior de nós mesmos.
O "TOP FIVE" e o Nick só me ajudam um pouco a entender o que é esse "lá", e no meio de um mundo cada vez mais complexo e escuro, isso é essencial para a minha sobrevivência.
Ah, e claro, não poderia deixar de dizer: conheci o Beta Band por causa deles.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Para São Chico de Assis.


Eu gostaria de amar todos os animais da Terra e tratá-los bem - mas não. Depois eu quis respeitar todos, mas falhei novamente. Tentei suportá-los, pensando que não me faziam mal algum. Funcionou com formigas, moscas (apesar do "zum zum zum" no ouvido às 3 horas da manhã no verão) e até abelhas (que me intimidam porque a sua picada dói e arde prá caramba). Mas assumi, de coração limpo, que odeio cobras, ratos e baratas. Que São Francisco de Assis me perdoe.

Se alguém me perguntar porquê, darei n motivos. São traiçoeiros. São asquerosos. Exalam venenos perigosos (alguns mortais se não tratados a tempo). Transmitem doenças. Mas no fundo, BEM no fundo, é uma mistura louca e insana de medo e nojo. Deve ter alguma explicação no meu inconsciente individual, e uma outra no inconsciente coletivo. Fato que não consigo estar no mesmo ambiente que eles. Numa ordem de classificação, eu diria que odeio menos ratos e mais cobras. Baratas é aquele "meio termo", pois mata-se com mais facilidade e não oferecem riscos para a minha vida.

O problema é que percebi, ao longo do tempo, que quanto mais alimento estes medos do mundo animal, mas eles me perseguem.
Eu já convivi, por exatos 15 dias, com um ratão dentro de casa. Morávamos em seis meninas, e o rato era praticamente um sétimo morador. Na calada da noite ele fazia um puta banquete (preferia frutas, macarrão, doces e o queijo das ratoeiras), deixava uns resíduos sólidos por aí (mal-educado!) e sumia.
De manhã, haviam furos nos alimentos na despensa, frutas comidas na fruteira e a ratoeira vazia. Ele só não deixava um bilhete de "Valeu, Losers", porque não havia tintas à vista.
Uma noite, eu e a Andrea o pegamos, entrando no forno do fogão já velho. Sem hesitação, ligamos e assamos. Ok, sim, eu me senti mal depois. E desembolsamos uma grana para comprar um fogão novo.

Uns dois anos depois, na mesma casa, uma vizinha foi nos entregar uma correspondência errada que chegou na casa dela. Tocou a campainha, ouvimos um grito, e quando abrimos o portão, não havia ninguém. Ela mandou um recado, para todas nós, pelo Orkut (na época que o Orkut servia para isso, claro): "Meninas, fui na casa de vocês entregar a conta, mas havia um lagartão na caixa do Correio!!! Me assustei e fui embora!!! Cuidem disso!!! É perigoso!!!!".
Abrimos a caixa do correio, e lá estava o bonitón, refrescando-se do calor de 36 graus que assolava Campinas. Não preciso dizer que ninguém conseguiu tirar o desértico de lá, e ficamos um mês pegando a correspondência na vizinha até ele ir embora. Também passamos outros seis meses ouvindo que morávamos no Deserto do Interior, e que o carteiro cobrava uma taxa extra para nos entregar correspondência, devido ao alto nível de periculosidade daquela residência.

Não adianta. Estes medos de origem animal sempre acarretam algum prejuízo. Uns podem dizer que são bichos inofensivos, importantes na cadeia alimentar, que não me fariam mal algum (ao contrário, eu é que os assusto!); mas eu me rendo sempre a este problema primitivo de convivência.
Já joguei uma dúzia de panelas fora, porque achei um ninho de baratas no armário  onde estavam guardadas (para o diabo os que acreditam que o cloro resolve tudo!).
E, neste momento, sei que há uns três ratões na cozinha de casa (graças a uns cultivos ilegais do vizinho). Quero ver quem é que iria lá pegar um copo de água tranquilo, no escuro! Vai, santo!! Diz! Diz!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Cruz e Souza, Jim e Sigmund.



Os poetas simbolistas já eram bem doidões, e acreditavam que era preciso dar vazão às manifestações do inconsciente. Não, eles não leram Freud (o que faz com que o Freud tenha dada várias acertadas na vida).

O simbolismo era uma grande loucura poética, que valorizava as nossas loucuras internas, transformando-as em algo acessível para o externo. Um pouco de LSD depois, e Jim Morrison teve uma ideia semelhante, quando criou o "The Doors", apoiado no livro de A. Huxley, "As portas da percepção", onde o autor acreditava haver uma porta que deveríamos abrir para entrar em contato com nossos instintos e percepções mais profundas. Uma suposta valorização dos sonhos, na sua máxima.

Eu, particularmente (além de simpatizar com algumas poesias simbolistas, com algumas músicas do Doors e com algumas ideias do Freud), acredito haver uns quatro tipos de sonhos.

Há aquele sonho "coletivo", que você quer contar para todo mundo, dar risada, compartilhar com os amigos e lembrá-lo depois sempre com um riso característico de fundo. Igual tortinha quente do Mc Donalds. Mesmo que você não goste, que saia da sua dieta, que você seja contra o Mc Donalds e o capitalismo selvagem, o cheirinho é bom e agrada todo mundo.

Há os sonhos "meio-coletivos", que você compartilha com amigos mais próximos, pois contém um pouco mais de informação (que óbvio, você não está tão afim de compartilhar assim), e você lembra depois com um pouco de desconfiança. Meio aquele suco bem gostoso do seu restaurante preferido, que você não sabe de onde vem as frutas, e tem medo de saber. "Assim tá bom".

Há os sonhos "não coletivos", que você compartilha com o(a) melhor amigo(a) e pronto. Não quer voltar a falar dele, tem conteúdos que você prefere esquecer, umas imagens tortas, umas cenas que "meu Deus". É íntimo demais. Tipo aquela sensação que você matou seu irmão, e "mesmo que ele seja o capeta encarnado, Deus disse que matar irmão é pecado". Você só conta para alguém para aliviar um pouco a culpa. Igual aquele cafézinho diário que você esconde do seu médico e piora sua gastrite.

E, por fim, há os sonhos "nem fudendo!". Você não conta pra ninguém ("nem fudendo!"), nem escreve sobre ("nem fudendo!"), e quer mais é que tudo passe logo e você durma tranquilo outra vez. Tem medo de que as pessoas olhem na sua cara e descubram o que você sonhou. Você acorda com vergonha, toma banho com vergonha, se troca com medo de sair às ruas, e tem a sensação de que todos saberão o que você fez na noite passada. É algo para se esquecer. Muito pior do que aquele filme ruim no cinema, aquele comida estragada, aquela noite em que você bebeu demais. Nada é pior que isto. "Ó céus, quando isso vai terminar?".

Freud, os simbolistas e o Jim Morrison diriam que este último é o melhor deles. Tsc.

sábado, 2 de junho de 2012

O medo da determinação.

Ninguém sabe dizer, com exatidão, o marco do início e do fim das coisas.

Os físicos, matemáticos, astrônomos, poetas, antropólogos, economistas. Todos tentam. Mas como afirmar, com certeza absoluta? Ninguém quer carregar este fardo. Afinal, e se estiverem errados?

Relacionamentos, por exemplo. As pessoas falam de determinados beijos, viagens, declarações, encontros inesperados, ligações no meio da noite, sms ao acaso (mais modernamente). 
Lembro de um filme, da Audrey Tautou. Ela se separa, devido à guerra, do homem que achava ser o amor da sua vida. Ele desaparece, e ela passa o filme todo procurando por ele. E tem momentos, de tanto desespero e saudades, que ela mentalmente conta até 5, e faz um acordo consigo mesma de que, se algo determinado acontecer naquele momento (como um carro passar numa estrada de terra abandonada), quer dizer que ele está vivo, e ela precisa continuar procurando por ele.
Somos assim. Registramos o marco inicial sempre baseados nestes momentos. "Foi aquela mensagem no meio da noite". "Foi aquele beijo roubado no cinema". "Foi aquele encontro inesperado na fila do teatro".

O que me leva a crer que, o marco inicial - sempre delicioso de se lembrar, seja mais fácil de ser "determinado". Falam em Big Ben, em crise do feudalismo, em capitalismo comercial, em sociedades primitivas, em teoria das cordas. Mas ninguém quer falar sobre o fim. A crise do capitalismo é real, mas ninguém cogita o seu fim em si. O que colocar no lugar? 21 de dezembro de 2012 está próximo, mas não vejo ninguém estocando alimentos na esperança de sobreviver. Negamos o fim. Sempre.

Um casal, juntos há uns 5 anos, passava por uma crise. Era dia dos namorados, e os dois, quebrados, não tinham muito dinheiro para presentes. Combinaram, então, de ir ao shopping, e escolherem presentes adequados para a conta bancária de cada um. Ele escolheu um roupão, acima do valor estipulado. Ela, meio ressabiada, pagou. Afinal, ele era "o amor da sua vida". Era só uma crise. Vai passar.
Chegou a vez dela. Procurou, procurou, e achou um óculos de sol. Precisava de um, mas também extrapolava o preço estimado entre eles. Era o mesmo preço do roupão. "Acho que não tem problema, afinal". Pegou o óculos, mostrou para ele, e ele, rapidamente, disse: "Querida, mas este óculos está um pouquinho caro, não está?".

É isso. Não somos preparados para encerrar algumas coisas. Mas após alguns anos de terapia, podemos concluir, com toda a certeza deste mundo, que é difícil colocar pontos finais. Entretanto, conseguimos determiná-los. O óculos foi o início do fim. 

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

R.I.P - Rock in Peace.














1970 deve ter sido um ano desastroso. O Brasil é campeão mundial de futebol, em plena ditadura militar (o que significa que não foi um bom negócio a vitória em si, mas a derrota traria, literalmente, conseqüências mais desagradáveis).

Em março do mesmo ano, os países assinam um tratado de não proliferação de armas nucleares. Sim, na época, Coréia do Norte, Paquistão e CIA já existiam. E não assinaram. Há quem se diga surpreso com a guerrilha e o caos militar que encontramos no mundo hoje. Pobres coitados. A metralhadora é mais velha que a libertação de escravos no Haiti (e olha que estes sim, foram revolucionários).

Em setembro a TV Excelsior encerra suas atividades, o Papa sofre um atentado e os Beatles acabam.
Ninguém podia imaginar que a humanidade resistiria.
Um ano antes, músicos renomados da época se reúnem em uma pequena cidade do estado de Nova York para celebrar a paz, o amor, a música e alguma esperança em um caminho em que estes símbolos perdurem.
Meio milhão de pessoas se aglomeram, sem comida, banheiro, segurança ou bombeiros para celebrarem juntas. Woodstock torna-se um momento histórico, e nos dá coragem de seguir em frente, mesmo diante da desgraceira que se sucedeu.

Entretanto, poucos meses depois, Jimi Hendrix é encontrado morto. Um mês depois, a Janis Joplin. Um ano depois, o Jim Morrison.
E depois dizem que a humanidade não dá pistas de que a vida na Terra está ficando cada vez mais difícil.

(PÔ, e não é que 10 anos depois, em plena crise da década de 80, me morrem o Bon Scott, o Vinicius, o Cartola e o John Lennon!!!!!!).
Por isso eu vou ver o AC/DC. Quando a coisa toda acabar, eu quero ter a lembrança viva, dentro de mim, de um tempo que não voltará mais. Pois acredito que ninguém fará o esforço de conservar, ou manter na história, o que pode unir e juntar, transformar e mudar.

O sertão é dentro da gente mesmo.

sábado, 3 de maio de 2008

Fetiche da gastronomia.















É conveniente que a aparência dos pratos de comida sejam melhores até mesmo do que seu próprio gosto.
Não, não é uma opinião minha. Quer dizer, minha também; mas ocasionalmente de 9 entre 10 chefes de cozinha bem renomados.

É uma sacanagem! Por exemplo: não acho ostras apetitosas. Aliás, nada com aspecto de ostras ou minhocas. O aspecto 'gosmento' de algumas gastronomias, me dá embrulhos.
Entretanto, eu, volta e meia, tenho consciência de minha ignorância, deslumbre e burrice (enganados até por nossos próprios cérebros e estômagos! merda!) - uma folha aqui, um creme lá, um tomatinho seco, blá blá blá, e pá! Um belíssimo prato de ostras à australiana (invejo nomes criativos de comida), onde as malditas ostras se escondem debaixo de uma puta salada de especiarias bonitas, e pasmem! GOSTOSAS.

A gastronomia é um serviço do diabo.
E os europeus comem mal pra cacete. Onde já se viu - esse prato de... de... com cerveja? AHN?
Certeza que tem uma ostra aí.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Das dádivas perdidas.




















Não sei que em certa altura do desenvolvimento humano, decidiram abolir o silêncio.

O silêncio se tornou constrangedor. Mal-educado. Até ameaçador. Salas de espera, saguões de aeroporto, filas de banco. É uma tortura. Você está lá, cá entre seus pensamentos, e alguém teima em fazer parte do seu pequeno, mísero, ínfimo tempo de silêncio.

“Fila longa, não?”.
“É, essa ponte aérea, que vida”.
“O meu canal precisa de um retoque”.

A comunicação, verbal, é essencial. Mas eu, por exemplo, preciso ter uns momentos de comunicação com meu cérebro. Ver se está tudo bem, como ele passou a semana, como vem se virando entre tantas sinapses, tantos impulsos, essas coisas do dia-a-dia. É verdade que tem o cerebelo, o bulbo, mas pêra lá, somos eu e ele, aí, todos os dias, na comunicação direta. Ele manda, eu respondo, eu mando, ele responde. Precisamos de intimidade. Ele quer entender aquele calafrio da terça-feira, ou aquela irritação da quinta-feira à noite; eu preciso de umas informações sobre aquele texto de quatro dias atrás.
Necessitamos um momento de carinho. Eu digo “vem pra cá”. E ele vem, dengoso. Precisa descansar, por uns segundos que seja. E eu também.

E vem um fiodaputa nos incomodar?
Por Deus!

Em que mundo vivemos!

Não deixem as pessoas começarem com perguntas.
“O senhor acha bom esse médico aí?”
Não responda!
“Preciso que te dizer que esse vôo...”
Não precisa!
Mas se vier o fatal “Posso te fazer uma pergunta?”.
Não pode! Não!
Controle-se, vire, torça os dedos, controle a respiração.

Melhor ainda: corra.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Pá pá pá pá














Lembro-me da primeira vez que ouvi Lou Reed no Velvet Underground. Uma miséria de vida. Como eu havia sobrevivido até aquele momento sem o Velvet ?
É isso que a música faz por você.

Utilizar uma música na sua vida, é um negócio muito sério. É fazer uso dos sentimentos de outra pessoa, que num momento orgásmico ou fudido (é...) da vida dela, soltou tudo lá, e anos depois, você, usurpador, utiliza-a para beijar, amassar, comer, comer, estudar ou ainda pior, matar alguém (sim, eu duvido que terroristas não tenham um CD).

Certamente há músicas e músicas. Como há bandas e bandas. E cantores e cantores. Eu já tive bandas pílulas, de uma música só. E algumas que me acompanharão até o fim da vida - quem sabe até além dela.

Houve algumas de meses e outras de semanas. Momentos bons. Namoros. Fases. Talvez seja o pior que se possa fazer por algum som. Você o usa cafajestamente por algum tempo, enquanto lhe convir, e depois, pé na bunda. Anos mais tarde, naquela tarde fossa, do lado do gim tônica, você se lembra dela, e põe o CD. Nada mais sacana com os sentimentos de um compositor.
(aconteceu comigo, e o Oasis).

Posso relacionar aqui, cinco músicas que marcaram a minha vida. Mas não fará sentido algum, a não ser que você esteja incluído no momento em que elas soaram pela primeira vez.
Posso apenas...hum, um dia, você descobre o melhor som da sua vida (ou os melhores, porque há muita coisa boa por aí).
Compra CD´s, estuda acordes, vasculha as vidas dos caras.
E os introduz (é...) na sua vida.

Se eu pudesse, por exemplo, encontrar alguém lá de baixo, eu encontraria o Lou Reed, com certeza. É algo muito pessoal, íntimo mesmo.

- Pô, você é um fudido!! Valeu, cara!

domingo, 24 de dezembro de 2006

Dos fatos marcantes.













A primeira recordação que eu tenho do Natal, é um Papai Noel azul, me entregando o que seria depois uma lancheira vermelha, em 1989. Descobri anos depois (como todas as crianças da minha época) que o velhinho de 25 anos era um amigo de meu pai - que casualmente foi meu professor de física no colégio. Coisas da vida, embora eu sempre tenha gostado da matéria (sorte dele).

Quando era criança, pensava que todas as coisas, especialmente as datas marcantes (Páscoa, Dia das Crianças, Natal, entre outras festas que você dá mais importância até os 10 anos) tinham que ter um momento especial. É, algo marcante, como um Papai Noel azul. Podia ser traumático - eu poderia contar o fato na escola, e não ter nenhum amigo até a adolescência. Mas que se danasse (eu era mais impetuosa quando criança, verdade). Eu tinha que ter o tal fato, e Natal era sempre especial. Tinha o melhor de todos os fatos do ano.
Uma tia que confessou ir ao Medieval - o melhor motel de todos os tempos da década de 90 em SP. Um tio que bebia demais e acabava se afogando na piscina. Uma tia histérica que jogava sapatos na cabeça do marido porque este lhe dava o mesmo presente há 4 anos. Coisas assim.

O melhor Natal, de que tenho plena recordação, foi o de 1994. Em uma certa hora, todas os milhares (porque com 10 anos uma família de 20 pessoas é uma multidão) de convidados começam a se degladiar, falar da crise do país, do tetra-campeonato, do parreira, do efé-agá, entre outras coisas que naquela época não me interessavam (e hoje, continuam não me interessando, pelo menos entre os dias 24 e 25 de dezembro).

De repente, percebi que a minha presença não faria diferença alguma (como acontece em certos momentos até hoje) e fui até a piscina. Morávamos em um condomínio fechado, com quadra, parquinho e tudo o mais, quando tudo o mais era mais barato.
Deitei lá, no espaço de tomar sol. Fiquei ali umas três horas. Ninguém deu por falta. Fiquei olhando pro céu, todo estrelado, bem noite de verão.
Foi a primeira impressão de infinito que eu tive na vida.

Achava que quando crescesse, teria que ser Presidente da República, e bolar uma lei para que toda pessoa, uma vez no ano, olhasse para o céu. Para deixar de ser besta.

Até hoje, quando dizem "espírito de Natal", eu acho que tenho conceitos pervetidos.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Um pequeno adendo.

Definitivamente há dois grandes prazeres na vida: comer (em todas as suas concepções) e ir ao cinema.
Há tempos eu não retiro algumas horas do meus dias para me deliciar naquelas poltronas gigantes, que te fazem crer que, ao sair dali, tua vida irá se transformar - você vai encontrar o amor da sua vida, vai tocar uma música duca ao fundo, não haverá louças na pia para você lavar quando chegar em casa (sua casa é própria, claro), tão pouco cheques pré-datados para conferir e aporrinhações diversas, afinal, você tem o seu carro e pode sair para qualquer lugar e fugir desses loucos capitalistas que não respeitam o teu momento de felicidade.

No fundo, bem no fundo, você sabe que é tudo ilusão. Mas é a melhor ilusão que você pode ter na vida. Por duas, ou três horas, se tiver sorte.
Ser um filme.
Um filme bão, extraordinário mesmo. Daqueles que as pessoas assistem, e com aquela lagriminha teimosa no olho esquerdo, e garganta seca, dizem: "Pô, sensacional".

Sem filmes em especial. Não tenho repertório cinematográfico para tal.
Encontro-me no estágio "cenas". E tenho 4 opções.

Brilho Eterno de uma mente sem lembranças.
Crédito: roteiro estupendo.











Pela brilhante sensação de pânico do piadista (e se soube depois, dramático), Jim Carrey, ao estar debaixo dos lençóis com a possível mulher de sua vida, e vê-la se lamentar de sua "falta de beleza". Uma lágrima escorre, de desespero, e ela some. Exatamente como ele desejou. Entretanto, naquele momento, só desejava, ao contrário, manter aquela lembrança. Aquela, somente.
Pela agonia, que eu desejo nunca sentir na vida.
(infelizmente, sem ilustração verdadeira)

Casablanca
Crédito: a história, a história e a história, em todos os seus aspectos cinematográficos.









Rick é um homem, e ponto. E a verdadeira desilusão de um homem nunca foi tão bem retratada. Hoje, entretanto, se eu vislumbro a cena, vejo Sam, dedilhando "You must remember this"...
- Sam, peça mais uma.
"A kiss is just a kiss"
- Claro Rick (e um tapinha nas costas).
"A sight is just a sight"
(Abraçam-se)
"The fundamental things aplly"
- Com tantos bares no mundo Sam!
"As time goes by".

Peixe Grande
Crédito: pela metáfora de uma vida inteira.











O poder de parar no tempo, e observar, em detalhes, e do jeito que você sempre imaginou, e de alguma forma viveu, os melhores momentos da tua vida.

Taxi Driver.
Crédito: mais pungente crítica da sociedade americana da década de 70.












Eu escolho "Are you talking to me?", que se soube, anos mais tarde, foi uma cena totalmente improvisada por Robert. Magnífico e assombroso, como todos os momentos em que você se perde de você mesmo, e não se dá conta disso.

Martin Scorsese afirma, entretanto, que a cena mais importante de Taxi Driver é a que Travis Bickle telefona para Betsy tentando marcar um segundo encontro. Na seqüência, a câmera se move para o lado e faz uma panorâmica para um longo corredor vazio, próximo a Bickle - o movimento da câmera sugere que a conversa entre os dois é muito dolorosa e penosa para ser ouvida.

Depois de alguns anos de grandes telas, todos os dias, antes de dormir, rezo pelas almas de caras como Martin.

Mas certamente, em especial, por este cara:
"Eu amo fazer cinema, nunca me cansei disto.E foi isto que me deu um direito de entrada no mundo e na condição humana, e por isso eu serei sempre agradecido".


















E eu também.

Pela memória de Robert Altman.

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Trapo















Porque nem todos acordam humanos e civis os dias todos.

O dia deu em chuvoso.
A manhã, contudo, esteve bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.

Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.

Bem sei, a penumbra da chuva é elegante.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.

Hoje quero só sossego.
Até amaria o lar, desde que o não tivesse.
Chego a ter sono de vontade de ter sossego.
Não exageremos!
Tenho efetivamente sono, sem explicação.
O dia deu em chuvoso.

Carinhos? Afetos? São memórias...
É preciso ser-se criança para os ter...
Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro!
O dia deu em chuvoso.

Boca bonita da filha do caseiro,
Polpa de fruta de um coração por comer...
Quando foi isso? Não sei...
No azul da manhã...
O dia deu em chuvoso.

sábado, 24 de junho de 2006

Cuepa, u lá lá.













A primeira Copa do Mundo de que me lembro mesmo, é a de 94. Baggio chuta para fora, Brasil é tetra-campeão.
Óquei, na verdade, do que me lembro mais é o Galvão e do Pelé pulando ao vivo na Globo, e o Gavião gritando "é teeeeeetra, é teeeeeeeetra" (a primeira decepção futebolística a gente nunca esquece).

Mas Copa do Mundo boa mesmo, é a que o Brasil entra em frangalhos. Como qualquer timeco.
Esse ano, cada jogo é uma final. Cornetas, recos-recos, batuque, Oludum ao vivo na TV, escola de samba. Cada gol, é um evento. Cada bolha, uma sensação. Cada quilo perdido, uma conquista. Cada passe, uma vitória. Nhé.

O jogo bão mermo? Dos africanos. Vão para a Alemanha, correm pra caráleo, dão lá umas porradas bem merecidas nos colonizadores, e voltam para casa - sem comida, sem dinheiro, sem cerveja, e maravilhados porque "Copa do Mundo, bã, é uma honra". Nhó.

E lá ficaremos nós.
Mais ou menos burros, mais ou menos trabalhando, mais ou menos sem aulas, mais ou menos entusiasmados.
E pior, raivosos.
Porque os nossos, além de milionários, agora tem aos pés as melhores cervejas do mundo, maledetos!

quinta-feira, 30 de março de 2006

Questões universitárias I















Sono. Psicológico ?
Por quê, então, ao acordar, morrendo, penso positivamente "acorda, corpo, acorda!", e ele me ignora ?

7h35. Perdemos a hora.
- Pessoal, sete e meia.
(lençóis ao vento)...
- Celular tocou, mas acho que eu apertei aquela outra teclinha.
- É, é aquela "soneca ó caráleo!".

quinta-feira, 23 de março de 2006

PARADO!












Para que serve este blog ?
- (W.O)

Quem escreve esses textos é você mesma ?
- Não querido, é a sua mãe quem me manda lá da zona.

As crianças existem ?
- Considere que a imaginação e a realidade do interlocutor são terrivelmente próximas.

Ele vai acabar ?
- Não sou imortal, tão pouco possuo dias de 40 horas.

Estou acostumada a provas de geometria com 4 questões. Perdoname.

Entretanto, para esclarecimentos, meu nome é com PH, não pretendo matar os capitalistas, tenho olhos que mudam de cor e não sei assobiar.

(acenos, e corrida rápida pelas portas dos fundos).

sábado, 11 de fevereiro de 2006

A verdade
















Estou cansada disso tudo aí.
Cansada, mas feliz.
Não por isso, mas por aquilo outro lá.

quarta-feira, 21 de setembro de 2005

A marvada.

Alguém pediu esses dias:
- Faz aí um soneto!
E eu respondi, a princípio, delicadamente:
- Não!
E replicaram:
- Mas você não sabe ler? Não sabe escrever? Não sabe o que é um soneto? (E eu, respondia “sim” com a cabeça).
- Então, faz um soneto aí!
- Não!
- Por quê?? (aquele por quê indignado)
- Porque eu não sou o Camões, porra!

Enlouqueci. E fui buscar inspiração. Uma trilha de migalhas de pão para o meu próprio eu.

O Machado de Assis, Joaquim, grande Joca. Mulato, gago e epilético. Carol, sua mulher, escrevia os textos que ele ditava. Presidente da aclamada (em sua época) Academia Brasileira de Letras. Publicou “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, no final da vida. Hoje, o imortal. Discurso fúnebre proferido pelo Rui, é, aquele do quadro do Largo São Franscico.

O Vinicius de Moraes, Vina, bonachão. Bêbado, mulherengo e grande – compositor, poeta e escritor. Compôs com Ari Barroso, Tom Jobim, Pixinguinha, esses caras aí que a juventude de hoje não conhece. Cantou com Caymi, Odete Lara, e fez o show de apresentação da Nara Leão. Seu melhor amigo – o whisky. Sábio.

O Victor Hugo, o gigante. Ícone da França, e do movimento romântico francês. Viveu exilado 22 anos, nas ilhas Jersey e Guernesey. Renegou 9 anos antes de retornar à pátria (em 1870) a anistia que o então imperador Napoleão III (Napoleón le petit, como ele carinhosamente o chamava) lhe concedera. Morreu aos 79 anos, depois de escrever na sua fase mais deprê, os seus maiores romances – “Os Miseráveis” e “Os trabalhadores do Mar”.

E eis que cheguei a Fernando. Fernando Pessoa. Fernandão era louco, maníaco – por astrologia. Deixou Cecília Meireles à mercê de sua espera em um café lisboense. Cecília fez uma “paradinha” em sua primeira viagem pela Europa em Portugal, apenas (e que fique bem claro, APENAS) para encontrá-lo. Umas duas horas de atraso depois, e um mensageiro veio lhe trazer o “Mensagem” – (livro de sua própria autoria, escrito em uma, exato, UMA noite de “desespero”), e um bilhete de desculpas – mas seu horóscopo daquele dia recomendava que não saísse de casa.

Nando é o dono do processo racional da criação - o meio que liga o coração e a razão. Dizia que a razão é o meio inteligente em que o coração se expressa. A dor sentida e a dor pensada,são traduzidas majestosamente em dor expressa pelos poetas.
Ninguém entenderá o que eles sentem, o que eles pensam sobre o que sentem, mas todos sentirão. São grandes fingidores. E invejáveis.


É isto, falta-me este meio.
Uma corda que ligue o coração à boca.

E o álcool.
O Mestre morreu aos 44 anos, de cirrose hepática.

Se me encontrarem no bar, deixe-me. Ou puxe uma cadeira, e peça mais uma.

sábado, 10 de setembro de 2005

O homem que enfiou um abacaxi no fiofó do general.



O bonitão, Sir. Heisenberg.

Impressiona-me a quantidade de descobertas que assolam o mundo. Os cientistas, biólogos, pesquisadores idolatram os gênios de suas áreas. Einstein, Darwin, Fleming (o maldito britânico bem relacionado com jornalistas da época, que levou a fama dos médicos Howard Florey e Ernst Chain – os verdadeiros criadores da penicilina), Morse, Bell, Newton, Pasteur, Mendel...

Apesar de reconhecer os tais grandes feitos dos senhores acima, e condecorá-los por não se renderem às limitações e proibições de suas épocas, já que em minha geração a tecnologia e a preguiça de qualquer espécie leva para a vala da mediocridade – o senso comum – quase todos os nascidos entre o fim do século XX e início do XXI, há uns caras que despertam em mim o verdadeiro fascínio e tesão da descoberta: Bohr, Schrödinger, Planck, Heisenberg, De Broglie, Compton e Pauli. O grande clã da física quântica.

A física quântica trouxe milhares de explicações orgásmicas sobre a interação dos átomos no núcleo. Do efeito fotoelétrico a constante de Planck, do méson-pi de Lattes ao efeito Compton e a dualidade onda-partícula.

Entretanto, o “Princípio das Incertezas” de Heisenberg, é o meu acontecimento pessoal. É a única descoberta científica que desperta em mim, um lado Fleming. O alemão Werner Karl Heisenberg, foi nomeado diretor científico das pesquisas nuclares alemãs durante o governo Hitler, apenas aceitou o cargo para tentar impedir que utilizassem a energia nuclear para fins bélicos. E de fato o conseguiu: convenceu os governantes da inviabilidade econômica da construção de bombas atômicas,o que levou a Alemanha para o caminho da pesquisa nuclear apenas em reatores atômicos. Ao contrário dos malditos americanos – o grupo Americano de Los Alamos, dirigido por Oppenheimer, conseguiu o feito. E bombardeou as cidades japonesas, antes da rendição, na segunda Guerra.

O princípio diz, em síntese: “se não é possível determinar exatamente todas as condições iniciais de um sistema, então também não é possível prever seu comportamento futuro. Os fenômenos não podem ser previstos exatamente; só é possível estabelecer a probabilidade de que algo aconteça”.


Heisenberg faz com que eu admire alguns cientistas e ainda suspire por um pouco de ética e honestidade nos meios políticos, econômicos e sociais. Após estudar o alemão que fez Hitler tomar no cú, eu passei a cultivar algumas paixões compulsivas por estudiosos dos comportamentos humanos e pela literatura. Antes eu sonhava em conhecer a Abadia de Westminster (que foi consagrada no dia de meu aniversário) e os túmulos de Sir. Issac Newton, Laurence, Dickens; mas perdi o tesão quando a senhora Lady Di, foi mandada para lá.

Hoje, se pudesse ter atendido tal desejo, gostaria de conhecer as progenitoras de cidadãos ilustres como o senhor Sérgio Buarque de Holanda, Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Milton Santos, Simon Schwartzman, Eça de Queirós, Machado de Assis, Victor Hugo, Virginia Wolf, Guimarães Rosa, Sartre, Niet e é claro, Pessoa. E não lhes daria parabéns. Passaria horas, admirando-as, e pensando “que dádiva foi aquela gozada, senhora”.