quarta-feira, 21 de setembro de 2005

A marvada.

Alguém pediu esses dias:
- Faz aí um soneto!
E eu respondi, a princípio, delicadamente:
- Não!
E replicaram:
- Mas você não sabe ler? Não sabe escrever? Não sabe o que é um soneto? (E eu, respondia “sim” com a cabeça).
- Então, faz um soneto aí!
- Não!
- Por quê?? (aquele por quê indignado)
- Porque eu não sou o Camões, porra!

Enlouqueci. E fui buscar inspiração. Uma trilha de migalhas de pão para o meu próprio eu.

O Machado de Assis, Joaquim, grande Joca. Mulato, gago e epilético. Carol, sua mulher, escrevia os textos que ele ditava. Presidente da aclamada (em sua época) Academia Brasileira de Letras. Publicou “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, no final da vida. Hoje, o imortal. Discurso fúnebre proferido pelo Rui, é, aquele do quadro do Largo São Franscico.

O Vinicius de Moraes, Vina, bonachão. Bêbado, mulherengo e grande – compositor, poeta e escritor. Compôs com Ari Barroso, Tom Jobim, Pixinguinha, esses caras aí que a juventude de hoje não conhece. Cantou com Caymi, Odete Lara, e fez o show de apresentação da Nara Leão. Seu melhor amigo – o whisky. Sábio.

O Victor Hugo, o gigante. Ícone da França, e do movimento romântico francês. Viveu exilado 22 anos, nas ilhas Jersey e Guernesey. Renegou 9 anos antes de retornar à pátria (em 1870) a anistia que o então imperador Napoleão III (Napoleón le petit, como ele carinhosamente o chamava) lhe concedera. Morreu aos 79 anos, depois de escrever na sua fase mais deprê, os seus maiores romances – “Os Miseráveis” e “Os trabalhadores do Mar”.

E eis que cheguei a Fernando. Fernando Pessoa. Fernandão era louco, maníaco – por astrologia. Deixou Cecília Meireles à mercê de sua espera em um café lisboense. Cecília fez uma “paradinha” em sua primeira viagem pela Europa em Portugal, apenas (e que fique bem claro, APENAS) para encontrá-lo. Umas duas horas de atraso depois, e um mensageiro veio lhe trazer o “Mensagem” – (livro de sua própria autoria, escrito em uma, exato, UMA noite de “desespero”), e um bilhete de desculpas – mas seu horóscopo daquele dia recomendava que não saísse de casa.

Nando é o dono do processo racional da criação - o meio que liga o coração e a razão. Dizia que a razão é o meio inteligente em que o coração se expressa. A dor sentida e a dor pensada,são traduzidas majestosamente em dor expressa pelos poetas.
Ninguém entenderá o que eles sentem, o que eles pensam sobre o que sentem, mas todos sentirão. São grandes fingidores. E invejáveis.


É isto, falta-me este meio.
Uma corda que ligue o coração à boca.

E o álcool.
O Mestre morreu aos 44 anos, de cirrose hepática.

Se me encontrarem no bar, deixe-me. Ou puxe uma cadeira, e peça mais uma.

9 comentários:

  1. puxar um banquinho, com o qual o v. de moraes fazia seus xous: banco, mesa e um uísquinho...

    um brinde, garota...seu texto merece...
    :-)

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  2. Super Rapha....
    Seus textos.... (suspiros)....

    Linda... as suas descrições misturadas com o seu modo peculiar de escrever formam um resultado simplesmente espetacular!!!

    Parabéns !!! Tim... Tim...

    Beijos...
    Eu te amo!

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  3. Jú, querida, você precisa começar a se identificar nos comentários, rs.

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  4. Nossa, q q é esse anônimo fazendo declarações?!
    Eh por isso então q vc está se tornando uma bêbada? Quer ser igual a Fernando Pessoa? O alcool, a tristesa, a melancolia, a depre, a loucura no final sempre resultam em boas coisas... Se todos fossem felizes não haveria arte.
    E "Memórias Póstumas..." é foda... machado é foda... fernando pessoa é um fingidor.
    Odeio no fundo horoscopos e astrologia... como pode estrelas, planetas e essas coisas por aí com suas posições definirem como será meu dia, como eu sou, se sou uma pessoa boa ou não, se vou ter sucesso, amor e dinheiro. Não aceito isso. E não aceito nada. Preciso ler Nietzsche mas tenho medo.
    Meus comentários são loucos, será q vou virar um desses aí?!
    Talvez eu vire ator, chamaram meu amigo (caralho pensei nisso e acaba de subir a janela dele dizendo q ele entrou no msn. odeio isso tb.) para fazer figuração num filme, precisavam de caras com barbas, acho q vou ir com ele. Aliás, é meu amigo, seu amigo, felipe. mundo pequeno. Quem sabe eu não viro um grande ator e namoro uma grande atriz linda e gostosa e fico rico tb. Mas não sei, preciso ver se as estrelas deixam.
    Enfim.... huahuah, não ter nada pra fazer é fogo. Até tenho mas não faço. Vagabundo.
    Bjs

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  5. Fala rapha !!!

    Que saudade de você menina !!! mil desculpas pela demora em voltar aqui no seu blog, eu estava sentindo falta dos seus escritos

    olha só, acho que você faz uma mistura incrível de humor com e literatura, apresentando assim um estilo singular de escrito, hilária e culta ao mesmo tempo, assim é essa menina incrível.

    um beijão para você, fique com deus

    eder

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  6. Quantos poemas escreverei num boteco qualquer, de uma avenida qualquer, em um tempo qualquer.
    Não quero precisar datas, nem locais, nem formas; só gostaria de escrver.
    E esse seu texto provoca uma embriagues sem tamanho. Delicioso como um Castillo del Diablo.
    Ah! Vc escreveu esse texto depois da Erdinger!?
    Beijão

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  7. O Pessoa morreu de cirrose e isso faz dele uma pessoa melhor. Pessoa 10 X 0 Camões.
    Tenho um Mensagem na minha estante que ganhei de aniversário e ainda não li. Mas não passa de outubro.
    Voltei: www.sorryperiferia.blogger.com.br
    Beijo pra ti.

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  8. Nêga, enche a cara e senta a pena!

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