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Alguém pediu esses dias:
- Faz aí um soneto!
E eu respondi, a princípio, delicadamente:
- Não!
E replicaram:
- Mas você não sabe ler? Não sabe escrever? Não sabe o que é um soneto? (E eu, respondia “sim” com a cabeça).
- Então, faz um soneto aí!
- Não!
- Por quê?? (aquele por quê indignado)
- Porque eu não sou o Camões, porra!
Enlouqueci. E fui buscar inspiração. Uma trilha de migalhas de pão para o meu próprio eu.
O Machado de Assis, Joaquim, grande Joca. Mulato, gago e epilético. Carol, sua mulher, escrevia os textos que ele ditava. Presidente da aclamada (em sua época) Academia Brasileira de Letras. Publicou “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, no final da vida. Hoje, o imortal. Discurso fúnebre proferido pelo Rui, é, aquele do quadro do Largo São Franscico.
O Vinicius de Moraes, Vina, bonachão. Bêbado, mulherengo e grande – compositor, poeta e escritor. Compôs com Ari Barroso, Tom Jobim, Pixinguinha, esses caras aí que a juventude de hoje não conhece. Cantou com Caymi, Odete Lara, e fez o show de apresentação da Nara Leão. Seu melhor amigo – o whisky. Sábio.
O Victor Hugo, o gigante. Ícone da França, e do movimento romântico francês. Viveu exilado 22 anos, nas ilhas Jersey e Guernesey. Renegou 9 anos antes de retornar à pátria (em 1870) a anistia que o então imperador Napoleão III (Napoleón le petit, como ele carinhosamente o chamava) lhe concedera. Morreu aos 79 anos, depois de escrever na sua fase mais deprê, os seus maiores romances – “Os Miseráveis” e “Os trabalhadores do Mar”.
E eis que cheguei a Fernando. Fernando Pessoa. Fernandão era louco, maníaco – por astrologia. Deixou Cecília Meireles à mercê de sua espera em um café lisboense. Cecília fez uma “paradinha” em sua primeira viagem pela Europa em Portugal, apenas (e que fique bem claro, APENAS) para encontrá-lo. Umas duas horas de atraso depois, e um mensageiro veio lhe trazer o “Mensagem” – (livro de sua própria autoria, escrito em uma, exato, UMA noite de “desespero”), e um bilhete de desculpas – mas seu horóscopo daquele dia recomendava que não saísse de casa.
Nando é o dono do processo racional da criação - o meio que liga o coração e a razão. Dizia que a razão é o meio inteligente em que o coração se expressa. A dor sentida e a dor pensada,são traduzidas majestosamente em dor expressa pelos poetas.
Ninguém entenderá o que eles sentem, o que eles pensam sobre o que sentem, mas todos sentirão. São grandes fingidores. E invejáveis.
É isto, falta-me este meio.
Uma corda que ligue o coração à boca.
E o álcool.
O Mestre morreu aos 44 anos, de cirrose hepática.
Se me encontrarem no bar, deixe-me. Ou puxe uma cadeira, e peça mais uma.