sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

"TOP FIVE".


Nick Horby é um grande cara. Um dos caras que eu mais gosto de ler, pelo prazer que isso me dá. Fala de coisas simples, como se fosse uma conversa de bar - sem propósito, mas que, de vez em quando, dá uma grande resposta e um caminho para sua vida.
"High Fidelity", ou "Alta Fidelidade", é um desses filmes que eu não canso de ver, e que me trouxe uma grande contribuição - o "TOP FIVE".

O filme tem uma das melhores trilhas sonoras de todos os tempos, e o enredo é uma adaptação do livro - que conta a história do Rob, um arquiteto frustado e dono de uma fantástica loja de discos (a Championship Vinyl) que leva um fora da namorada, Laura. A partir daí, acompanharemos sua trajetória - lembranças de outros foras clássicos, e suas inúmeras tentativas de voltar com a ex.
O ponto alto do livro (e do filme), é que as histórias, sentimentos, discos, trilhas sonoras e outros acontecimentos são classificados em "os cinco melhores", por Rob.
Há as cinco melhores músicas do dia, os cinco maiores pés na bunda, os cinco empregos dos sonhos, as cinco melhores coisas na ex-namorada, e assim por diante. Mas todos, sem exceção, com uma descrição sublime e consciente, detalhes importantes e períodos concretos. Uma síntese perfeita, da confusão complexa que é a vida do ser humano.

O melhor de tudo, para mim, é exatamente isso - que o "TOP FIVE" foge das nossas simplicidades. Os cinco melhores empregos tem datas, objetivos e descrições; por exemplo (vide vídeo).
Não é, simplesmente, querer ser astronauta. É algo como querer ser astronauta, em 1969, na NASA, conhecer Armstrong (que Deus o tenha) e talvez estar na Apolo 11. Sensacional. O melhor dos nossos sonhos e sentimentos mais obscuros. Uma verdadeira catarse das nossos maiores desejos, e frustações.

Mas confesso que o "TOP FIVE" dominou minha vida, por algum tempo. E da pior maneira. Perdi a grandiosidade do fato, e passei a selecionar as cinco melhores, de qualquer coisa, em qualquer lugar. As cinco melhores frutas exóticas da feira do sábado. As cinco melhores estampas para um vestido. Os cinco homens, e mulheres, influentes que eu mataria. Os cinco melhores sucos de melancia de São Paulo. Um verdadeiro tormento. E uma ofensa à ideia original.

Assim, depois de entender que a vida também estava um pouco simples demais (ou, na verdade, complexa demais e eu tentando simplificá-la da pior maneira possível), assisti novamente o filme, reli o livro, e entendi. É preciso estar de bem consigo mesmo, para conseguir o melhor do "TOP FIVE". E estar de bem consigo mesmo não é propriamente gostar de tudo em nós, ao contrário. É assumir que fazemos inúmeras cagadas, nos arrependemos, sonhamos e ainda não chegamos lá. Mas queremos. E para isso, tentamos lutar, diariamente, contra o pior de nós mesmos.
O "TOP FIVE" e o Nick só me ajudam um pouco a entender o que é esse "lá", e no meio de um mundo cada vez mais complexo e escuro, isso é essencial para a minha sobrevivência.
Ah, e claro, não poderia deixar de dizer: conheci o Beta Band por causa deles.

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