terça-feira, 14 de agosto de 2012

Cruz e Souza, Jim e Sigmund.



Os poetas simbolistas já eram bem doidões, e acreditavam que era preciso dar vazão às manifestações do inconsciente. Não, eles não leram Freud (o que faz com que o Freud tenha dada várias acertadas na vida).

O simbolismo era uma grande loucura poética, que valorizava as nossas loucuras internas, transformando-as em algo acessível para o externo. Um pouco de LSD depois, e Jim Morrison teve uma ideia semelhante, quando criou o "The Doors", apoiado no livro de A. Huxley, "As portas da percepção", onde o autor acreditava haver uma porta que deveríamos abrir para entrar em contato com nossos instintos e percepções mais profundas. Uma suposta valorização dos sonhos, na sua máxima.

Eu, particularmente (além de simpatizar com algumas poesias simbolistas, com algumas músicas do Doors e com algumas ideias do Freud), acredito haver uns quatro tipos de sonhos.

Há aquele sonho "coletivo", que você quer contar para todo mundo, dar risada, compartilhar com os amigos e lembrá-lo depois sempre com um riso característico de fundo. Igual tortinha quente do Mc Donalds. Mesmo que você não goste, que saia da sua dieta, que você seja contra o Mc Donalds e o capitalismo selvagem, o cheirinho é bom e agrada todo mundo.

Há os sonhos "meio-coletivos", que você compartilha com amigos mais próximos, pois contém um pouco mais de informação (que óbvio, você não está tão afim de compartilhar assim), e você lembra depois com um pouco de desconfiança. Meio aquele suco bem gostoso do seu restaurante preferido, que você não sabe de onde vem as frutas, e tem medo de saber. "Assim tá bom".

Há os sonhos "não coletivos", que você compartilha com o(a) melhor amigo(a) e pronto. Não quer voltar a falar dele, tem conteúdos que você prefere esquecer, umas imagens tortas, umas cenas que "meu Deus". É íntimo demais. Tipo aquela sensação que você matou seu irmão, e "mesmo que ele seja o capeta encarnado, Deus disse que matar irmão é pecado". Você só conta para alguém para aliviar um pouco a culpa. Igual aquele cafézinho diário que você esconde do seu médico e piora sua gastrite.

E, por fim, há os sonhos "nem fudendo!". Você não conta pra ninguém ("nem fudendo!"), nem escreve sobre ("nem fudendo!"), e quer mais é que tudo passe logo e você durma tranquilo outra vez. Tem medo de que as pessoas olhem na sua cara e descubram o que você sonhou. Você acorda com vergonha, toma banho com vergonha, se troca com medo de sair às ruas, e tem a sensação de que todos saberão o que você fez na noite passada. É algo para se esquecer. Muito pior do que aquele filme ruim no cinema, aquele comida estragada, aquela noite em que você bebeu demais. Nada é pior que isto. "Ó céus, quando isso vai terminar?".

Freud, os simbolistas e o Jim Morrison diriam que este último é o melhor deles. Tsc.

Um comentário:

  1. valdir villela jr14/8/12 19:35

    Pois é.
    Que curiosa, bonita e gostosa surpresa te ler. Nestes dias, ou meses, onde a angustia e a falta me impuseram (ou por opção, sei lá!) a reclusão (vida cã, afinal!) conhecer teu lado literário me deu um pouco mais de alegria (item em falta nas melhores lojas do ramo!) e (agora mais, muito mais!) admiração.

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